sexta-feira, 17 de março de 2017

CAPOEIRA SEM MESTRE

Por Duda Carvalho

Ter ou não ter mestres é uma polêmica da capoeira?
Não, com certeza não, existem aí duas questões colocadas.
Questão 1. Isso é uma falsa polêmica, criada por oportunistas ou ingênuos desinformados, que negam ou desconhecem a capoeira como manifestação humana de matriz africana, amplamente relacionada com as demais manifestações afro existentes ou recriadas em território brasileiro. Essa falsa polêmica é difundida por um minoritário grupo de capoeiristas, que se destacou por ser parte da classe média do Rio de Janeiro e dominar recursos midiáticos e de propaganda. Os mesmos se mostram insatisfeitos com a mestria na capoeira, aparentemente porque a mestria contraria, simbolicamente e ritualisticamente, uma iniciativa criada por eles denominada de Movimento Novo. Esta iniciativa se caracteriza como um espaço de vadiagem que não traz a configuração tradicional das rodas conduzidas e guiadas pelos legítimos representantes centrais desse processo: os mestres. Vale a pena ressaltar que essa iniciativa, de nova não tem nada. Apenas resgata antigos espaços de capoeiragem muito comuns em Salvador, Recife e Rio de Janeiro em meados do século passado. Pode-se dizer, com um termo específico da capoeiragem, que essa iniciativa não passa de um Caô de um grupo de capoeiristas de classe média do Rio de Janeiro que querem tirar uma ondinha de Mestre Bimba criando e inventando coisas “novas” na capoeira. Porém, diferentes do Mestre Bimba, não dispõem de qualquer legitimidade para tal e ainda, ao contrário de Mestre Bimba, acabam por descaracterizar a capoeira e tendem a transformá-la em mera mercadoria, para atender seus interesses pessoais.
Questão 2. Existem alguns capoeiristas que se mostram insatisfeitos em sua relação com seus mestres, e muitas vezes, arriscam a famosa carreira solo, realizando trabalhos individualizados. Ainda que estejam galgando a esperada mestria enquanto permanecem independentes, eles fomentam a capoeiragem sem mestre por pura conveniência, já que, ao trocarem reconhecidos mestres por aventureiros, retomam o discurso da mestria e voltam a defender sua titulação.
Em ambos os casos, está claro que existem questões específicas e isoladas que em nada podem ser associadas a uma polêmica ou que aglutinem argumentos suficientes para colocar em cheque a tradição ancestral que sustenta a existência da mestria na capoeira.

É verdade que nem sempre houve mestres na capoeira?
Não, não é. Vamos entender porque.

Muitas tradições de matriz africana têm como característica a figura de autoridade legitimada pela comunidade, que se torna responsável pela passagem dos saberes ancestrais. Essa autoridade não deve ser confundida com os modelos de autoridade das sociedades eurocêntricas, que se apresentam como agentes dos aparelhos repressores do estado. Constatar a presença desses sujeitos é simples, basta observar a presença desse mediador, mestre, puxador, pai, mãe, dentre outros tantos nomes dados a esses sujeitos no samba, maculelê, puxada de rede, terno de reis, maracatu, congada, samba de roda, Congo, caboclinho, marujada, nego fugido, candomblé, dentre algumas outras manifestações menos conhecidas, mas expressivas, dos saberes e rituais de matriz africana.
Portanto, inicialmente sempre houve mestres na capoeira sim! E a “polêmica” levantada, que nega isso em determinado momento histórico, é mentirosa e visa exclusivamente a apropriação cultural e a descaracterização de um saber ancestral com fins pessoais, objetivando a venda de um produto, qual seja a formação de alguma coisa indefinida pelos mesmo, responsável em ensinar capoeira Angola para crianças. 
Levando em consideração que a capoeira é uma manifestação predominantemente afro-brasileira, ela herda, portanto, essa característica que requer a existência de um responsável pelo rito de passagem. Segundo algumas fontes de pesquisa, a titulação de ‘mestre’ teria sido herdada da relação com as atividades marítimas, a partir de vivências da cultura portuária, devido à forte presença de africanos ainda escravizados na realização destes trabalhos. Ainda que a nomenclatura "mestre" tenha sido incorporada à capoeira tardiamente, já no século XX, essa função de responsável por ensinar e conduzir o processo de aprendizado, dentro das características específicas dos africanos, já existia na capoeira e em todas as manifestações oriundas dos negros africanos. Dessa forma, é verdade que o nome “mestre” nem sempre esteve na capoeira, mas a figura que desempenha este papel sim. Portanto, ao incorporar-se o título de “mestre” à capoeira, o mesmo vem carregado de toda uma simbologia histórica e ancestral que, lamentavelmente é esquecida, ou intencionalmente negada, pelo apresentador dessa propaganda, que se coloca como um representante de vendas de um produto despido de toda sua história e riqueza ancestral. 
Ao citar períodos históricos de inexistência da mestria, usando como referência Besouro Mangagá e Manduca da Praia, o desinformado marqueteiro, demonstrando sua extrema limitação histórica, é incapaz de reconhecer que esses sujeitos não desempenhavam apenas o papel análogo aos dos mestres nos modelos mais comumente vistos nas demais manifestações de matriz africana. Eram tempos em que a mestria na capoeira coexistia com o aprendizado e a vivência espontânea da rua. E ainda que a predominância, pelo assim descrita nos relatos históricos, fosse da subversão e das brigas de rua, isto não invalida toda a vivência concomitante destes mestres com os mais variados capoeiristas oriundos de outros processos de aprendizagem, estes também carregados de valores ancestrais e constituídos de seus rituais e tradições específicos a cada época.
Usar esses capoeiristas para sugerir uma "era de valentões" como argumento para endossar a falsa polêmica da "capoeira sem mestres" é a expressão mais concreta de uma clara tentativa de descaracterização da capoeira como manifestação humana ancestral. De fato, ainda hoje existem figuras que se comportam os citados Besouro e , e nem por isso podemos dizer que vivemos uma “era de valentões” e que a capoeira pode existir sem mestres. É estranho sobretudo este discurso partir de um sujeito que é titulado na capoeira como uma autoridade, mas que passa a negar esta titulação no momento em que isto se torna conveniente. Ou seja: com o intuito de vender o seu produto, atropela-se a própria titulação.
Oportunistas e canalhocratas da mais baixa categoria.
É de praxe, quando deseja-se descaracterizar ou transformar a história de alguma coisa, como no caso em questão, que se faça a supressão partes dos fatos com o objetivo de adequar o discurso aos fins aos quais se pretende chegar.
Minha curiosidade é saber porque o falso profeta em questão nega,  na teoria de “eras” sugerida no vídeo, os significativos processos ancestrais ligados à cultura de guerra e luta das tradições africanas dentro dos quilombos. Caso ele aponte a falta de documentação para fazer essa análise, será que ele consegue resistir ao fato de que as suposições dessa ancestralidade centralizada nos sujeitos mediadores, puxadores, condutores, orientadores, mestres se consolidou nos séculos subsequentes? E que, nos dias de hoje, tem a sua afirmação difundida em todos os espaços onde essas manifestações existem, inclusive no ambiente onde o mesmo é formado?
Por fim, podemos ainda retrucar a ridícula teoria de “eras” e afirmar que a mestria não surge com Mestre Bimba e Pastinha como ele sugere. Ela se consolida formalmente com estes sujeitos, que muito antes de terem essa titulação reconhecida e legitimada, já vinham cumprindo essa função, de acordo e influenciado pelos seus valores ancestrais. É fato que suas propostas de ensino sofrem influências diversas, tanto com o ingresso de novos membros nos grupos de capoeira quanto a com exigências da sociedade modernizada. Entretanto, é preciso deixar claro que a necessidade de uma reestruturação nos processos de ensino/aprendizagem não nega em nada os valores ancestrais intrínsecos à capoeira, desde que a preservação destes seja o objetivo principal das medidas de reformulação.
Se ainda resta alguma dúvida da existência da mestria antes desses ícones da capoeira, vale recordar uma das formas de aprendizado que antecede qualquer metodologia de ensino desenvolvida por influências alternativas aos saberes africanos, a oitiva. O ensino pela oitiva é um dos processos que marcam a presença dos mestres Bimba e Pastinha e que se constituem como formas de passagem dos saberes da capoeira e de outras manifestações de matriz africana.


Triste ver que, quando a fala parte de um sujeito letrado, pequeno burguês e branco, nitidamente suas ideias ganham maior aparência de verdade e tem o poder de influenciar muitos. Pena que nem todos meus irmãos capoeiristas conseguem ver o que ele faz com a capoeira ao deixá-la nua de sua herança ancestral e histórica.

O texto se refere a este vídeo, divulgado na última semana pelas redes sociais. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Frente Parlamentar de Defesa da Capoeira no município de Salvador: refletindo o significado e os desafios dessa proposta


PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 16/13 Cria em 11 de março de 2013 a Frente parlamentar de Defesa da capoeira no Município de Salvador, a proposta é uma iniciativa do Vereador Luiz Carlos (PRB), porém compõe a comissão mais 13 vereadores, Everaldo Augusto (PCdoB), Kiki Bispo (PTN), Vado Malassombrado (DEM), Isnard Araújo (PR), Leandro Guerrilha (PSL), Waldir Pires (PT), Ana Rita Tavares (PV), Euvaldo Jorge (PP), Alemão (PRP), Toinho Carolino (PTN), Cláudio Tinoco (DEM), Edvaldo Brito (PTB), Hilton Coelho (PSOL).

Na ultima quarta-feira, dia 19 de abril de 2013, seria a primeira reunião interna, exclusiva para os vereadores que compõe a frente. Sendo a capoeira uma grande rede com a ininterrupta comunicação entre seus militantes, nosso coletivo de militantes de Salvador que não foi convidado esteve presente para compor essa roda.


A título de esclarecimento é válido relembrar quem é o coletivo a que me refiro. Somos todos capoeiristas, de variadas escolas tradicionais, oriundos de Salvador, do interior da Bahia, de variados segmentos da capoeira, que após o tombamento da capoeira, quando iniciado o projeto de Salvaguarda conduzido pelo IPHAN, nos organizamos em um coletivo (Militância e Capoeira) para garantir os interesses da capoeira da Bahia que não se via representado nas propostas e formulações hegemonicamente defendidas por segmentos de capoeira ligados a Mega Grupos com perfis esportivizados e inclinados a defender projetos nocivos a capoeira tais como a esportivização e a regulamentação da capoeira que, condicionava a formação dos mestres à universidade nos cursos regulares de Educação Física. Nas postagens abaixo é possível tomar conhecimento inclusive do acumulo de lutas e construções feitas pelo coletivo em questão.

É tomado como surpresa a referida proposta de frente parlamentar sem envolvimento representativo e significativo de integrantes da comunidade de capoeira, dos mestres tradicionais, ou mesmo do nosso coletivo que atua politicamente pela capoeira e tem representatividade. É também surpresa o acumulo de lutas, que reflete as demandas da capoeira na Bahia não comporem os aspectos que justificam a criação da referida frente parlamentar, como citados no documento que segue em anexo, ao contrário, os aspectos mais importantes para a capoeira atualmente que dizem respeito, inclusive, para sua perpetuação, como a valorização e preservação dos mestres tradicionais que estão morrendo sem o menor amparo não compõem a referida justificativa, o que parece significativamente ocupar o espaço da justificativa é mais o potencial de atrativo turístico que a capoeira tem, este que por sua vez não reflete melhora nas condições de vida dos mestres, não é preciso citar exemplos para respaldar essa lógica.
  De fato a reunião se tornou uma roda em que os capoeiristas não convidados puderam jogar, efetivamente isso foi possível frente à sensata abertura concedida pelo Vereador Luiz Carlos que encabeça a proposta.

Após ser apresentado aos capoeiras presentes na frente da Câmara Municipal de Salvador, o vereador iniciou sua apresentação do que seria a frente e estendeu o debate para a sala interna da Câmara onde seria a reunião que contou com alguns assessores dos parlamentares que integram a frente.
De acordo com o Vereador Luis Carlos, sua iniciativa tem como preocupação o atendimento a juventude de Salvador, que de acordo com os próprios dados levantados pelo parlamentar é de maioria negra e periférica. O mesmo exalta as características da capoeira expressas na sua possibilidade de estar nesses espaços e se constituir como uma “ferramenta” de amparo social a juventude periférica extremamente sujeita a violência derivada do trafico de drogas.

O parlamentar apresenta a frente como um espaço institucional para a construção e formulação de iniciativas de caráter público pensados para a capoeira e ressalta que essas elaborações serão reflexos do debate entre os envolvidos diretamente na capoeira, se refere a estrutura da frente como sendo aberta a comunidade e garante a preocupação de ouvir os verdadeiros interessados na pasta, os capoeiristas, bem como levar em consideração os acúmulos de debates e iniciativas desenvolvidas pelo coletivo Militância e Capoeira.

Polêmicas fizeram parte da reunião de abertura, majoritariamente composta por assessores de parlamentares que compõe a frente e dos representantes dos segmentos da capoeira e integrantes do coletivo.

A preocupação inicial diz respeito aos aspectos colocados no inicio do texto, o que pode ser caracterizado como uma iniciativa que se mostra a princípio negligenciando o acúmulo de debates já feito na capoeira. A Militância levanta estrema preocupação com esse aspecto.  
Uma segunda preocupação levantada pelo coletivo diz respeito ao fato do parlamentar que encabeça a proposta ser oriundo da bancada evangélica. Preocupa o coletivo o aspecto em questão frente as constantes polêmicas referente aos direcionamentos políticos que parlamentares integrantes da bancada evangélica tem dirigido aos grupos LGBT, aos negros, as mulheres e recentemente aos índios, como vem sendo veiculado a propaganda de evangelizar tribos ainda “primitivas” na Amazônia.

O Parlamentar garante que o espaço é político e que ali serão divididas as questões religiosas dos encaminhamentos e demandas da frente parlamentar, porém ainda fica nublado a ideia que a frente é para tratar de uma manifestação da cultura popular de matriz africana que não pode ser vista de maneira fragmentada, ele é dentre outras coisas um complexo de elementos, tradições e rituais que fragmentada perde a característica, esse é o grande desafio que foi expressamente reforçado por todos na reunião.

Diante do contexto, torna-se uma necessidade, a constante monitoração de possíveis descaracterizações das tradições da cultura popular de matriz africana, como é o caso do acarajé e sua equivocada, intencional e ignorante rotulação de bolinho de Jesus.

É dever de todo capoeirista estar atento a nova frente, exigir que a mesma garanta os interesses da comunidade de capoeira, que garanta a perpetuação da tradição que é a capoeira com seu arcabouço histórico, cultural, que se possa de fato ter nesse espaço, um espaço que ouse lutar pelas demandas da comunidade de capoeira que é significativamente pobre e negra e que qualquer desvio do cumprimento dos interesses ligados a tradição, a história, a cultura seja denunciada. Não esperamos ter que entrar nessa roda para lutar com os componentes delas, esperamos fazer dessa roda um espaço onde se possa somar forças para a garantia de políticas públicas para a capoeira em geral.

Saudações   

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aberto o Debate para criação lei que prevê pensão vitalícia para mestres da Cultura Popular



Ontem, 13 de Abril de 2011, nosso coletivo, esteve no gabinete do então deputado estadual Marcelino Galo. A ideia era levar o documento formulado no I Seminário de Proposição de Políticas Públicas para a Capoeira e, com base neste propor, por intermédio do deputado, a elaboração de um projeto de lei que garanta uma pensão vitalícia para os mestres da cultura popular.
  

Os encaminhamentos que foram definidos na reunião seguem a ordem: 1. Formulação do projeto de lei pela liderança da militância e os interessados; 2. Novo encontro com o deputado para avaliar as estratégias de encaminhamento no legislativo; 3. Consulta popular para definição e fechamento do projeto; 4. Proposição do projeto na assembléia, pelo deputado ou diretamente pela casa civil; 5. Elaboração das estratégias de caráter popular.

Retrato das iniciativas sociais no tema

Tem uma “porrada” de mestres de capoeira morrendo nas piores condições possíveis. Os capoeiras se solidarizam, choram em seus enterros, sentem remorsos, fazem homenagens póstumas, ou alguns menos passivos, organizam rodas e encontros com o objetivo de arrecadar contribuições para a família, ou mesmo para os mestres enquanto vivos, mas já acometidos por problemas de saúde ou o que seja. A realidade é que agora a militância, que mais uma vez não opera em causa própria, como a maioria dos grupos “Capoeira-Capital”, está propondo uma iniciativa pública que possa beneficiar os mestres de capoeira, bem como quaisquer representantes do saber popular. Entende-se que essa iniciativa deve perpassar por duas instâncias sociais, sendo uma delas a representação popular no governo, ou seja a assembléia legislativa. Nesse sentido, faz-se necessário apelar para a associação do projeto de lei a um deputado estadual ou pela casa civil, ou seja, diretamente pelas mãos do governador. Pelos dois caminhos, torna-se fundamental a  atividade da segunda instância, que diz respeito à manifestação popular de caráter expressivo, se utilizando de ferramentas como a elaboração de baixo-assinado, atos públicos, paralisações, propaganda, dentre outras. 


Quando iniciamos, há um tempo, essa militância em defesa do coletivo da capoeira, costumávamos ouvir com muita freqüência determinados depoimentos, especialmente de alguns capoeiras, nos quais os mesmos se negavam a fazer debates e proposições com políticos, acreditando não valer a pena ou porque “política não presta”. Esses mesmos capoeiras não se negam a receber dos políticos que, no geral criticam, verbas para realização de eventos com a corrupta intenção de se beneficiar na redução de custos do evento. É lamentável que esses camaradas não saibam que se negar a militar, "também" por via da política, é o mesmo que aceitar o que está posto,  que está colocado. Nossa militância se fará presente nas ruas, nas rodas e em qualquer espaço que esteja falando e tratando de capoeira. Convidamos os que não estão apenas preocupados com o próprio umbigo a se juntar! Sabemos que o número é pequeno, mas significativo.

O link abaixo mostram outras fontes que divulgaram a reunião:

sexta-feira, 11 de março de 2011

DOCUMENTO FINAL DO SEMINÁRIO BAIANO

O I Seminário Baiano de Proposições de Políticas Públicas para a Capoeira foi uma iniciativa autônoma e independente de um coletivo de mestres, contra-mestres, professores, treineis, alunos e pesquisadores da capoeira do Estado da Bahia, com o intuito de discutir e elaborar propostas de formulação de políticas públicas, como forma de contribuir com as discussões iniciadas pelo Programa Pró-Capoeira do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O referido seminário aconteceu nos dias 11 e 12 de dezembro de 2010, nas dependências do Forte da Capoeira, localizado no Largo de Santo Antônio além do Carmo, na cidade de Salvador. Contou com um número de 112 participantes inscritos, representando 59 grupos de capoeira de diversas regiões do estado.

Um número expressivo de mestres tradicionais da capoeira baiana se fizeram presentes pessoalmente ou através de seus representantes, como: Mestre Curió, Mestre Boca Rica, Mestre Lua Rasta, Mestre Moraes, Mestre João Pequeno, Mestre Itapoan, Mestre Camisa Roxa, Mestre Régis entre muitos outros mestres e contra-mestres de gerações mais recentes que muito contribuíram com os debates e formulações das propostas aprovadas na Plenária Final.


Clique aqui e veja o documento final


Clique aqui e veja todas as fotos do seminário final 



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SEMINÁRIO DE PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CAPOEIRA DA BAHIA

Após muitos encontros e discussões em torno das nossas possibilidades de fazer diferente o que viemos questionando na iniciativa do IPHAN, convocamos oficialmente todos os capoeiristas da Bahia, capital e interior, para o Seminário de Proposição de Políticas Públicas para Capoeira, a ser realizado no Forte da Capoeira nos dias 11 e 12 de dezembro. Essa iniciativa conta, dentre outros importantes aspectos, com a possibilidade de formular um documento que será oficialmente entregue ao atual Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

É importante que contemos com um número de quatro representantes por grupo para os GT´s. Também devemos considerar a relevância e necessidade de se fazerem presentes os representantes do interior. Em função do evento ser uma realização autônoma dos capoeiras da Bahia, sem nenhum vínculo com empresas ou Estado, garantimos, caso confirmado, apenas a hospedagem de camaradas do interior, porém não temos como oferecer alimentação e transporte. Ressalta-se que esse é um movimento dos capoeiristas inconformados com os rumos das propostas de políticas públicas organizadas pelo Governo. Nesse sentido, o movimento não fará acordo com seguimentos privados e públicos.


Para entender toda essa iniciativa, é indispensável acompanhar o histórico do Pró-capoeira e do Manifesto da Bahia lendo o blog desde as primeiras postagens

Maiores informações: manifestodabahia@gmail.com
9109-8995(oi)/9635-7306/9156-8161/8218-9353
Confira a programação e divulgue nosso Folder

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ato público de 27 de outubro de 2010


Em 28 de outubro de 2010, te início o segundo encontro do Pró-Capoeira no Rio de Janeiro. No dia anterior, em Salvador, as comunidades de capoeira Angola, regional e de rua se concentraram na Praça Piedade para mostrar indignação e protesto. Indignação pelos encaminhamentos definidos em Recife, dentre os quais os mais chocantes dizem respeito a: “padronização e formalização da capoeira como esporte olímpico” e a associação da formação dos capoeiristas às instituições de ensino superior. Por outro lado, o protesto se refere a FORMA como o programa pró-capoeira vem realizando a consulta popular. Como foi apresentando no texto anterior, a seleção dos convidados, os textos tendenciosos, a ausência de uma plenária final, dentre outros.


A mobilização em Salvador contou com alguns canais da imprensa, além de comunidades sensíveis a causa, dentre associações de capoeira e militâncias do movimento negro. A parada foi divulgada em todo Brasil e tinha como programação estratégica o dia de início do segundo encontro do Pró-Capoeira no Rio de Janeiro.

A próxima iniciativa da comunidade, que já recebeu o nome de manifesto da Bahia, será no formato de proposições para políticas públicas, de forma autônoma, e sustentada nas possibilidades legislativas.

Em breve, divulgaremos os locais e os dias de reuniões, estando o espaço aberto para todos os capoeiras que estejam acordados com a nossa militância, haja vista que, uma parte dos capoeiras abraça as propostas formuladas em Recife, o que evidencia, portanto a luta de classes no interior da capoeira. 


Matéria do Jornal Atarde de 28 de outubro de 2010

Nosso acordo é com quem milita e defende interesses coletivos


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma Análise do Pró-Capoeira

Essa é uma análise que se propõem crítica, de denuncia e de convocação, feita com base no primeiro encontro do Pró-capoeira realizado nos dias 08, 09 e 10 de Setembro de 2010.
Trataremos de denunciar o que entendemos ser, os rumos equivocados que tem tomado a condução e estruturação do pró-capoeira, resultando nos encaminhamentos frontalmente opostos ao coletivo da capoeira. Já a convocação é uma necessidade definida em assembléia realizada em salvador no dia 22 de setembro de 2010, na qual definimos, dentre outros encaminhamentos, convocar o maior número possível de camaradas para agregar no movimento.

Na postagem anterior, mostramos como foi realizada a chamada para os consultores, bem como os critérios para ser consultores. De fato a chamada foi feita e dois representantes foram selecionados, porém, não foram publicados os resultados da seleção para os cargos de consultores, também o critério de escolha desses consultores é pouco significativo, haja vista, que esses consultores “deveriam” escolher capoeiristas que fossem qualificados para debater políticas públicas, portanto “deveriam” ser além de pesquisadores na capoeira, militantes de amplo conhecimento na comunidade de capoeira, ou ainda, serem mediadores de uma assembléia em que os próprios capoeiristas em suas regiões nomeassem os representantes.

Mas não ocorreu dessa forma, como mostrou os resultados em Recife, traduzidos na insuficiência do debate e nas propostas finais, logo a problemática da escolha dos consultores ou de falta de orientação para estes desencadeou outro problema, a escolha de representantes por região sem a devida qualificação.     

Vamos entender o que estou caracterizando como desqualificado.

A gestão do Pró-capoeira selecionou eixos temáticos, em torno dos quais irão se centrar os debates e encaminhamentos de políticas públicas, sendo estes: Capoeira e Educação; Capoeira e Política de Desenvolvimento Sustentável; Capoeira e Políticas de Fomento; Capoeira, Esporte e Lazer; Capoeira Identidade e Diversidade; Capoeira, Profissionalização, Organização Social e Internacionalização. Nestes GT´s, ou seja, grupos de trabalhos, se inscreveram aleatoriamente os capoeiristas que foram selecionados pelos consultores do Pró-capoeira para o nordeste, em sua grande maioria camaradas que estavam “perdidos” em relação as discussões propostas, assim como a função e o contexto do Pró-capoeira.

Sabemos e militamos que a consulta deve ser popular, porém devemos ter clareza que a proposição de políticas públicas por representantes da capoeira que não estejam a par da conjuntura é um grande risco, apenas ser capoeirista não qualifica o sujeito para representar uma comunidade de capoeira extremamente rica e diversificada, essa é uma tarefa que deve ser cumprida por um capoeirista militante que possam representar os interesses da comunidade em geral e não de grupos específicos com interesses próprios, e para tal representatividade esses sujeitos devem ser eleitos em assembléias de capoeiristas de cada região, e não seguir a dinâmica proposta pelo Pró-capoeira, de escolher seus consultores para que estes escolham os representantes.

Para além desse aspecto o Pró-capoeira não considerou a necessidade de associar aos eixos temáticos capoeiristas que tivessem militância especifica em cada GT. Apenas a título de exemplo, tínhamos no GT Capoeira, Profissionalização, Organização Social e Internacionalização, camaradas que sequer compreendiam os limites da regulamentação e que não tiveram nenhuma participação ou mesmo entendimento do que significou a grande luta travada contra o sistema CREF e CONFEF por estarem fora do Brasil ou mesmo por não serem atingidos pelas barreiras colocadas aos capoeiristas por esses conselhos, esses mesmos camaradas no debate referente a regulamentação da profissão estavam propondo ou concordando com a criações de conselhos de capoeira para regulamentar a prática capoeira, além de propor a formação em capoeira vinculada a instituições de ensino formal, ou seja, nada muito diferente das propostas do Sistema CREF e CONFEF. 

Estou concluindo que ser qualificado para debater políticas públicas para um coletivo é pertencer a esse coletivo e estar a par do que ha de mais avançado no debate.  

É também exemplo dessa falta de qualificação, caracterizada pela defesa de interesse próprios, os encaminhamentos propostos GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que sacudiram de indignação a plenária final, que não pode se posicionar. Outro ponto que retomaremos no final.

Na seqüência e não dissociado dos problemas até agora considerados, temos outra grande inquietação, que se refere aos textos norteadores dos debates para cada grupo de trabalho. Estes textos foram entregues para todo os convidados (termo utilizado para os representantes de estado) antes dos debates nos GT´s.

Em principio são textos sem autoria, com um forte cunho tendencioso, em alguns textos as questões direcionadas são proposições que evidenciam uma determinada perspectiva para a capoeira, apenas a título de exemplo vale citar uma pergunta elaborada ao final do texto do GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que questiona “quais as conseqüências da inserção da capoeira como esporte olímpico?”.

Não esta se perguntando antecipadamente, o que é esporte um olímpico, qual a origem do esporte olímpico, qual a origem da capoeira, se é de interesse da comunidade a articulação de capoeira com esporte olímpico, pelo contrário, indiretamente se propõem a capoeira como esporte olímpico levantando suas conseqüências. O resultado desse GT foi o que mais causou inquietação na plenária final. 
Reunião no Hotel jangadeiro
Foto:João Walter
É importante considerar um fato ocorrido em Recife relacionado a edição e circulação dos textos norteadores. 

No dia 08 de setembro, por volta das 10h da noite, nos reunimos na cobertura do hotel Jangadeiro, especialmente a delegação da Bahia, camaradas do Ceará, Pernambuco e outros estados para montar uma estratégia de participação política no encontro, dentre um conjunto de problemas levantados foi considerado a necessidade de se posicionar sobre os textos. 

O resultado dessa reunião foi a formulação de um manifesto que se posicionava, dentre outras coisas, questionando a autoria dos textos.

Até aqui poderemos levantar uma desconfiança, comportamento previsível nos capoeiras, principalmente em relação ao governo que elaborou como primeira iniciativa de política pública em relação a capoeira, a criminalização. 

A suspeita que levanto é conseqüente da seguinte associação: critérios de seleção de consultores insuficiente para o contexto; não divulgação dos resultados da seleção dos consultores; seleção de representantes da comunidade de capoeira sem o devido preparo para as discussões propostas; representação insuficiente e desqualificada nos GT´s; textos de cunho tendencioso, creio que não seja necessário muito esforço para entendermos porque os resultados propostos nos GT´s causaram tamanha inquietação e revolta na comunidade de capoeira que se importa com os assuntos tratados no âmbito de políticas públicas.

Continuemos a pontuar os aspectos que chamaram atenção em Recife e que muito provavelmente permanecerão no Rio e em Brasília. Após os encaminhamentos propostos nos GT´s, os textos ainda não editados, foram levados a plenária final que contaria com a presença de todos. Esses textos, ou mais precisamente tópicos propostos no debate, foram apenas lidos e não foram submetidos a avaliação na plenária final, ou seja, tomando como exemplo os encaminhamento do GT de Capoeira, Esporte e Lazer, foi definido: “O Ministério das relações exteriores junto com um grupo interministerial deve tomar a iniciativa de formalizar a capoeira em outros países, conforme as entidades desportivas internacionais, através da padronização de suas regras desportivas”. Essa definição foi elaborada por coletivo de capoeiristas pouco significativo em termos de número, bem como em diversidade relacionada ao debate sobre as relações de esporte olímpico, esporte e capoeira, a grosso modo essa definição foi proposta por um coletivo de capoeiristas que, em sua grande maioria, representam os grupos que tem um trato exclusivamente esportivo com a capoeira.

Pergunto a vocês camaradas, esse posicionamente é consenso da comunidade em geral de capoeiristas do nordeste? No entanto, foi encaminhado e será considerado no encontro nacional juntamente com as propostas das demais regiões do Brasil, que como todos sabem, tem em sua grande maioria de representantes, uma história de afinidade com a referida idéia.

A responsabilidade de resultados como esse é reflexo da desorganização e falta de estrutura séria e comprometida das instituições pública com a capoeira. Certamente cabe a comunidade de capoeira exercer um papel mais ativo e organizado agora, esse é o propósito desse artigo, que ao final apresentará os encaminhamentos já propostos na Bahia.
Márcia Sant'anna - Diretora do departamento
de Patrimônio Imaterial do IPHAN 
Não estou falando de falta de organização de maneira aleatória, considero isso também, com base nas palavras da diretora do departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN, que publicamente reconheceu o despreparo do Pró-capoeira quando afirma que tinha consciência de erros na condução do Pró-capoeira, porém so restavam duas opções, ou fazia da maneira que vem sendo feito ou não fazia. 

A irresponsabilidade na condução do Pró-capoeira pode trazer seriíssimos problemas para a comunidade de capoeiristas, a exemplo de uma formulação como essa apresentada no GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que sem dúvida não reflete a necessidade, tradição, coerência e opinião da comunidade de capoeira em geral.

Leitura final dos tópicos propostos
É importante ainda observar que os encaminhamentos propostos nos GT´s em forma de tópicos mediados por consultores do Pró-capoeira contratados pela Intercult-BSB serão editados por eles, e por mais que tivéssemos solicitados a publicação de tais resultados, até a presente data, 11 de outubro de 2010, não foram publicados.

De forma sintética os encaminhamentos propostos nos GT´s que mais inquietaram a comunidade de capoeira em geral e que foram motivo de mobilização na Bahia propõem: a) a articulação da formação em capoeira as instituições de ensino formal, rompendo com a tradição de formação na capoeira pela mediação do Mestre, cabe o exemplo do tópico recortado GT Capoeira, Esporte e Lazer: Os velhos mestres já tem direito adquirido e devem participar dos encontros para capacitar os capoeiristas.Porém, os capoeiristas novos devem ser qualificados pelas instituições do Governo Federal, devendo entrar no curso de capacitação para depois alcançar o emprego de professor”; b) como visto anteriormente, o mesmo GT propõem a formalização e padronização da capoeira como esporte olímpico. 

Vale ressaltar que o GT Capoeira e Educação também evidencia a formação associada ao ensino formal.
Em função dos resultados do primeiro encontro do Pró-capoeira em Recife, tirada as devidas conclusões apresentadas, se reuniram em 22 de setembro, em Salvador-Bahia no forte da capoeira um número significativo de representantes da comunidade de capoeira, com o propósito de se mobilizar frente aos encaminhamentos do Pró-Capoeira, bem como as formulações tiradas nestes GT´s que seguramente não refletem a maioria da comunidade de capoeira. 

Clique aqui e veja as fotos da assembléia realizada em Salvador










Dessa assembléia resultou um manifesto que agora apresentamos...