terça-feira, 23 de abril de 2013

Frente Parlamentar de Defesa da Capoeira no município de Salvador: refletindo o significado e os desafios dessa proposta


PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 16/13 Cria em 11 de março de 2013 a Frente parlamentar de Defesa da capoeira no Município de Salvador, a proposta é uma iniciativa do Vereador Luiz Carlos (PRB), porém compõe a comissão mais 13 vereadores, Everaldo Augusto (PCdoB), Kiki Bispo (PTN), Vado Malassombrado (DEM), Isnard Araújo (PR), Leandro Guerrilha (PSL), Waldir Pires (PT), Ana Rita Tavares (PV), Euvaldo Jorge (PP), Alemão (PRP), Toinho Carolino (PTN), Cláudio Tinoco (DEM), Edvaldo Brito (PTB), Hilton Coelho (PSOL).

Na ultima quarta-feira, dia 19 de abril de 2013, seria a primeira reunião interna, exclusiva para os vereadores que compõe a frente. Sendo a capoeira uma grande rede com a ininterrupta comunicação entre seus militantes, nosso coletivo de militantes de Salvador que não foi convidado esteve presente para compor essa roda.


A título de esclarecimento é válido relembrar quem é o coletivo a que me refiro. Somos todos capoeiristas, de variadas escolas tradicionais, oriundos de Salvador, do interior da Bahia, de variados segmentos da capoeira, que após o tombamento da capoeira, quando iniciado o projeto de Salvaguarda conduzido pelo IPHAN, nos organizamos em um coletivo (Militância e Capoeira) para garantir os interesses da capoeira da Bahia que não se via representado nas propostas e formulações hegemonicamente defendidas por segmentos de capoeira ligados a Mega Grupos com perfis esportivizados e inclinados a defender projetos nocivos a capoeira tais como a esportivização e a regulamentação da capoeira que, condicionava a formação dos mestres à universidade nos cursos regulares de Educação Física. Nas postagens abaixo é possível tomar conhecimento inclusive do acumulo de lutas e construções feitas pelo coletivo em questão.

É tomado como surpresa a referida proposta de frente parlamentar sem envolvimento representativo e significativo de integrantes da comunidade de capoeira, dos mestres tradicionais, ou mesmo do nosso coletivo que atua politicamente pela capoeira e tem representatividade. É também surpresa o acumulo de lutas, que reflete as demandas da capoeira na Bahia não comporem os aspectos que justificam a criação da referida frente parlamentar, como citados no documento que segue em anexo, ao contrário, os aspectos mais importantes para a capoeira atualmente que dizem respeito, inclusive, para sua perpetuação, como a valorização e preservação dos mestres tradicionais que estão morrendo sem o menor amparo não compõem a referida justificativa, o que parece significativamente ocupar o espaço da justificativa é mais o potencial de atrativo turístico que a capoeira tem, este que por sua vez não reflete melhora nas condições de vida dos mestres, não é preciso citar exemplos para respaldar essa lógica.
  De fato a reunião se tornou uma roda em que os capoeiristas não convidados puderam jogar, efetivamente isso foi possível frente à sensata abertura concedida pelo Vereador Luiz Carlos que encabeça a proposta.

Após ser apresentado aos capoeiras presentes na frente da Câmara Municipal de Salvador, o vereador iniciou sua apresentação do que seria a frente e estendeu o debate para a sala interna da Câmara onde seria a reunião que contou com alguns assessores dos parlamentares que integram a frente.
De acordo com o Vereador Luis Carlos, sua iniciativa tem como preocupação o atendimento a juventude de Salvador, que de acordo com os próprios dados levantados pelo parlamentar é de maioria negra e periférica. O mesmo exalta as características da capoeira expressas na sua possibilidade de estar nesses espaços e se constituir como uma “ferramenta” de amparo social a juventude periférica extremamente sujeita a violência derivada do trafico de drogas.

O parlamentar apresenta a frente como um espaço institucional para a construção e formulação de iniciativas de caráter público pensados para a capoeira e ressalta que essas elaborações serão reflexos do debate entre os envolvidos diretamente na capoeira, se refere a estrutura da frente como sendo aberta a comunidade e garante a preocupação de ouvir os verdadeiros interessados na pasta, os capoeiristas, bem como levar em consideração os acúmulos de debates e iniciativas desenvolvidas pelo coletivo Militância e Capoeira.

Polêmicas fizeram parte da reunião de abertura, majoritariamente composta por assessores de parlamentares que compõe a frente e dos representantes dos segmentos da capoeira e integrantes do coletivo.

A preocupação inicial diz respeito aos aspectos colocados no inicio do texto, o que pode ser caracterizado como uma iniciativa que se mostra a princípio negligenciando o acúmulo de debates já feito na capoeira. A Militância levanta estrema preocupação com esse aspecto.  
Uma segunda preocupação levantada pelo coletivo diz respeito ao fato do parlamentar que encabeça a proposta ser oriundo da bancada evangélica. Preocupa o coletivo o aspecto em questão frente as constantes polêmicas referente aos direcionamentos políticos que parlamentares integrantes da bancada evangélica tem dirigido aos grupos LGBT, aos negros, as mulheres e recentemente aos índios, como vem sendo veiculado a propaganda de evangelizar tribos ainda “primitivas” na Amazônia.

O Parlamentar garante que o espaço é político e que ali serão divididas as questões religiosas dos encaminhamentos e demandas da frente parlamentar, porém ainda fica nublado a ideia que a frente é para tratar de uma manifestação da cultura popular de matriz africana que não pode ser vista de maneira fragmentada, ele é dentre outras coisas um complexo de elementos, tradições e rituais que fragmentada perde a característica, esse é o grande desafio que foi expressamente reforçado por todos na reunião.

Diante do contexto, torna-se uma necessidade, a constante monitoração de possíveis descaracterizações das tradições da cultura popular de matriz africana, como é o caso do acarajé e sua equivocada, intencional e ignorante rotulação de bolinho de Jesus.

É dever de todo capoeirista estar atento a nova frente, exigir que a mesma garanta os interesses da comunidade de capoeira, que garanta a perpetuação da tradição que é a capoeira com seu arcabouço histórico, cultural, que se possa de fato ter nesse espaço, um espaço que ouse lutar pelas demandas da comunidade de capoeira que é significativamente pobre e negra e que qualquer desvio do cumprimento dos interesses ligados a tradição, a história, a cultura seja denunciada. Não esperamos ter que entrar nessa roda para lutar com os componentes delas, esperamos fazer dessa roda um espaço onde se possa somar forças para a garantia de políticas públicas para a capoeira em geral.

Saudações   

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