segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma Análise do Pró-Capoeira

Essa é uma análise que se propõem crítica, de denuncia e de convocação, feita com base no primeiro encontro do Pró-capoeira realizado nos dias 08, 09 e 10 de Setembro de 2010.
Trataremos de denunciar o que entendemos ser, os rumos equivocados que tem tomado a condução e estruturação do pró-capoeira, resultando nos encaminhamentos frontalmente opostos ao coletivo da capoeira. Já a convocação é uma necessidade definida em assembléia realizada em salvador no dia 22 de setembro de 2010, na qual definimos, dentre outros encaminhamentos, convocar o maior número possível de camaradas para agregar no movimento.

Na postagem anterior, mostramos como foi realizada a chamada para os consultores, bem como os critérios para ser consultores. De fato a chamada foi feita e dois representantes foram selecionados, porém, não foram publicados os resultados da seleção para os cargos de consultores, também o critério de escolha desses consultores é pouco significativo, haja vista, que esses consultores “deveriam” escolher capoeiristas que fossem qualificados para debater políticas públicas, portanto “deveriam” ser além de pesquisadores na capoeira, militantes de amplo conhecimento na comunidade de capoeira, ou ainda, serem mediadores de uma assembléia em que os próprios capoeiristas em suas regiões nomeassem os representantes.

Mas não ocorreu dessa forma, como mostrou os resultados em Recife, traduzidos na insuficiência do debate e nas propostas finais, logo a problemática da escolha dos consultores ou de falta de orientação para estes desencadeou outro problema, a escolha de representantes por região sem a devida qualificação.     

Vamos entender o que estou caracterizando como desqualificado.

A gestão do Pró-capoeira selecionou eixos temáticos, em torno dos quais irão se centrar os debates e encaminhamentos de políticas públicas, sendo estes: Capoeira e Educação; Capoeira e Política de Desenvolvimento Sustentável; Capoeira e Políticas de Fomento; Capoeira, Esporte e Lazer; Capoeira Identidade e Diversidade; Capoeira, Profissionalização, Organização Social e Internacionalização. Nestes GT´s, ou seja, grupos de trabalhos, se inscreveram aleatoriamente os capoeiristas que foram selecionados pelos consultores do Pró-capoeira para o nordeste, em sua grande maioria camaradas que estavam “perdidos” em relação as discussões propostas, assim como a função e o contexto do Pró-capoeira.

Sabemos e militamos que a consulta deve ser popular, porém devemos ter clareza que a proposição de políticas públicas por representantes da capoeira que não estejam a par da conjuntura é um grande risco, apenas ser capoeirista não qualifica o sujeito para representar uma comunidade de capoeira extremamente rica e diversificada, essa é uma tarefa que deve ser cumprida por um capoeirista militante que possam representar os interesses da comunidade em geral e não de grupos específicos com interesses próprios, e para tal representatividade esses sujeitos devem ser eleitos em assembléias de capoeiristas de cada região, e não seguir a dinâmica proposta pelo Pró-capoeira, de escolher seus consultores para que estes escolham os representantes.

Para além desse aspecto o Pró-capoeira não considerou a necessidade de associar aos eixos temáticos capoeiristas que tivessem militância especifica em cada GT. Apenas a título de exemplo, tínhamos no GT Capoeira, Profissionalização, Organização Social e Internacionalização, camaradas que sequer compreendiam os limites da regulamentação e que não tiveram nenhuma participação ou mesmo entendimento do que significou a grande luta travada contra o sistema CREF e CONFEF por estarem fora do Brasil ou mesmo por não serem atingidos pelas barreiras colocadas aos capoeiristas por esses conselhos, esses mesmos camaradas no debate referente a regulamentação da profissão estavam propondo ou concordando com a criações de conselhos de capoeira para regulamentar a prática capoeira, além de propor a formação em capoeira vinculada a instituições de ensino formal, ou seja, nada muito diferente das propostas do Sistema CREF e CONFEF. 

Estou concluindo que ser qualificado para debater políticas públicas para um coletivo é pertencer a esse coletivo e estar a par do que ha de mais avançado no debate.  

É também exemplo dessa falta de qualificação, caracterizada pela defesa de interesse próprios, os encaminhamentos propostos GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que sacudiram de indignação a plenária final, que não pode se posicionar. Outro ponto que retomaremos no final.

Na seqüência e não dissociado dos problemas até agora considerados, temos outra grande inquietação, que se refere aos textos norteadores dos debates para cada grupo de trabalho. Estes textos foram entregues para todo os convidados (termo utilizado para os representantes de estado) antes dos debates nos GT´s.

Em principio são textos sem autoria, com um forte cunho tendencioso, em alguns textos as questões direcionadas são proposições que evidenciam uma determinada perspectiva para a capoeira, apenas a título de exemplo vale citar uma pergunta elaborada ao final do texto do GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que questiona “quais as conseqüências da inserção da capoeira como esporte olímpico?”.

Não esta se perguntando antecipadamente, o que é esporte um olímpico, qual a origem do esporte olímpico, qual a origem da capoeira, se é de interesse da comunidade a articulação de capoeira com esporte olímpico, pelo contrário, indiretamente se propõem a capoeira como esporte olímpico levantando suas conseqüências. O resultado desse GT foi o que mais causou inquietação na plenária final. 
Reunião no Hotel jangadeiro
Foto:João Walter
É importante considerar um fato ocorrido em Recife relacionado a edição e circulação dos textos norteadores. 

No dia 08 de setembro, por volta das 10h da noite, nos reunimos na cobertura do hotel Jangadeiro, especialmente a delegação da Bahia, camaradas do Ceará, Pernambuco e outros estados para montar uma estratégia de participação política no encontro, dentre um conjunto de problemas levantados foi considerado a necessidade de se posicionar sobre os textos. 

O resultado dessa reunião foi a formulação de um manifesto que se posicionava, dentre outras coisas, questionando a autoria dos textos.

Até aqui poderemos levantar uma desconfiança, comportamento previsível nos capoeiras, principalmente em relação ao governo que elaborou como primeira iniciativa de política pública em relação a capoeira, a criminalização. 

A suspeita que levanto é conseqüente da seguinte associação: critérios de seleção de consultores insuficiente para o contexto; não divulgação dos resultados da seleção dos consultores; seleção de representantes da comunidade de capoeira sem o devido preparo para as discussões propostas; representação insuficiente e desqualificada nos GT´s; textos de cunho tendencioso, creio que não seja necessário muito esforço para entendermos porque os resultados propostos nos GT´s causaram tamanha inquietação e revolta na comunidade de capoeira que se importa com os assuntos tratados no âmbito de políticas públicas.

Continuemos a pontuar os aspectos que chamaram atenção em Recife e que muito provavelmente permanecerão no Rio e em Brasília. Após os encaminhamentos propostos nos GT´s, os textos ainda não editados, foram levados a plenária final que contaria com a presença de todos. Esses textos, ou mais precisamente tópicos propostos no debate, foram apenas lidos e não foram submetidos a avaliação na plenária final, ou seja, tomando como exemplo os encaminhamento do GT de Capoeira, Esporte e Lazer, foi definido: “O Ministério das relações exteriores junto com um grupo interministerial deve tomar a iniciativa de formalizar a capoeira em outros países, conforme as entidades desportivas internacionais, através da padronização de suas regras desportivas”. Essa definição foi elaborada por coletivo de capoeiristas pouco significativo em termos de número, bem como em diversidade relacionada ao debate sobre as relações de esporte olímpico, esporte e capoeira, a grosso modo essa definição foi proposta por um coletivo de capoeiristas que, em sua grande maioria, representam os grupos que tem um trato exclusivamente esportivo com a capoeira.

Pergunto a vocês camaradas, esse posicionamente é consenso da comunidade em geral de capoeiristas do nordeste? No entanto, foi encaminhado e será considerado no encontro nacional juntamente com as propostas das demais regiões do Brasil, que como todos sabem, tem em sua grande maioria de representantes, uma história de afinidade com a referida idéia.

A responsabilidade de resultados como esse é reflexo da desorganização e falta de estrutura séria e comprometida das instituições pública com a capoeira. Certamente cabe a comunidade de capoeira exercer um papel mais ativo e organizado agora, esse é o propósito desse artigo, que ao final apresentará os encaminhamentos já propostos na Bahia.
Márcia Sant'anna - Diretora do departamento
de Patrimônio Imaterial do IPHAN 
Não estou falando de falta de organização de maneira aleatória, considero isso também, com base nas palavras da diretora do departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN, que publicamente reconheceu o despreparo do Pró-capoeira quando afirma que tinha consciência de erros na condução do Pró-capoeira, porém so restavam duas opções, ou fazia da maneira que vem sendo feito ou não fazia. 

A irresponsabilidade na condução do Pró-capoeira pode trazer seriíssimos problemas para a comunidade de capoeiristas, a exemplo de uma formulação como essa apresentada no GT de Capoeira, Esporte e Lazer, que sem dúvida não reflete a necessidade, tradição, coerência e opinião da comunidade de capoeira em geral.

Leitura final dos tópicos propostos
É importante ainda observar que os encaminhamentos propostos nos GT´s em forma de tópicos mediados por consultores do Pró-capoeira contratados pela Intercult-BSB serão editados por eles, e por mais que tivéssemos solicitados a publicação de tais resultados, até a presente data, 11 de outubro de 2010, não foram publicados.

De forma sintética os encaminhamentos propostos nos GT´s que mais inquietaram a comunidade de capoeira em geral e que foram motivo de mobilização na Bahia propõem: a) a articulação da formação em capoeira as instituições de ensino formal, rompendo com a tradição de formação na capoeira pela mediação do Mestre, cabe o exemplo do tópico recortado GT Capoeira, Esporte e Lazer: Os velhos mestres já tem direito adquirido e devem participar dos encontros para capacitar os capoeiristas.Porém, os capoeiristas novos devem ser qualificados pelas instituições do Governo Federal, devendo entrar no curso de capacitação para depois alcançar o emprego de professor”; b) como visto anteriormente, o mesmo GT propõem a formalização e padronização da capoeira como esporte olímpico. 

Vale ressaltar que o GT Capoeira e Educação também evidencia a formação associada ao ensino formal.
Em função dos resultados do primeiro encontro do Pró-capoeira em Recife, tirada as devidas conclusões apresentadas, se reuniram em 22 de setembro, em Salvador-Bahia no forte da capoeira um número significativo de representantes da comunidade de capoeira, com o propósito de se mobilizar frente aos encaminhamentos do Pró-Capoeira, bem como as formulações tiradas nestes GT´s que seguramente não refletem a maioria da comunidade de capoeira. 

Clique aqui e veja as fotos da assembléia realizada em Salvador










Dessa assembléia resultou um manifesto que agora apresentamos...









8 comentários:

  1. A iniciativa é boa, Duda. Legal iniciar o blog. As coisas ditas aqui são muito pertinentes e ajudam na resistência, sem dúvida! Mas...Tem uma questão que me incomoda e é nela que tenho foco: a da linguagem...Acho que muitos capoeiristas acabam por não ler um texto como este que vc escreveu. Acabam por não se inteirar das coisas por causa de uma linguagem, na opinião de muitos, complicada, formal. Então, a minha pergunta (com todo o respeito, quero que entenda isso!!) é: quem vai ler esse texto? Quem vai saber desse movimento e participar dele? Um capoeirista sem escolaridade, se sentiria a vontade de participar de um grupo desses??? Isso me dá impressão de roda grande...Muitos não jogam e fica em evidência quem já tem nome e quem sempre esteve (mas pode ser que quem não jogou, tenha uma grande capacidade, uma bela capoeira para apresentar).Isso me incomoda muito! E acho que, tanto o pró capoeira quanto o movimento gerado a partir dele, não incluem, destacam pessoas...Porque não fazer vários encontros pequenos em diversas áreas, conversar com as pessoas com uma linguagem fácil, deixando-as a vontade para se manifestar, e, talvez depois, sim, fazer uma grande reunião?...É trabalho demais? É. Precisa de mta gente? Precisa. O trabalho é voluntário? É. Mas será que não tem gente que se disporia a fazer isso? Acho que funcionaria mais.Esclareceria mais. Agregaria mais força. Enfim...É a minha observação. Mas conheço capoeiras que pensam assim tb. E que poderiam contribuir muito.Na chamada pra reunião de 22/09,em algum lugar do cartaz dizia algo como:"vc não imagina o que pode acontecer quando os notáveis se encontram!". Ali, eu desanimei...Como assim notáveis?? A palavra notável incentiva a vaidade, anula em muito o sentimento de grupo. Quem tem que achar alguém notável é a história e não nós mesmos...Será que entende o que quero dizer? O cuidado com a linguagem (que foi dessa linguagem simples que surge a maneira de se comunicar dos capoeiristas, pelo menos, pelo viés do discurso e das cantigas deles!) aponta um bom caminho.
    Se esse texto postado aí em cima, fosse dividido em várias postagens, com uma linguagem um pouco mais simples, talvez despertasse o interesse daqueles que não estão acostumados a ler textos assim (como eu, ou vc). ENFIM...NÃO ESTOU DESMERECENDO DE FORMA ALGUMA A SUA INICIATIVA E A SUA INTENÇÃO... Só respeito muito aqueles que não lêem um texto assim e são sábios capoeiras-zeladores. Aqueles que não se enxergam como notáveis, mas que buscam por dignidade estando atentos ao próximo.
    Um grande abraço,
    Lilu

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  2. Olá Lilu,
    Vamos por partes. A princípio, o aspecto da linguagem e do público. Estou certo que algumas coisas são complicadas (complicadas difere de complexas), pois estamos falando de capoeira, porém em uma dimensão diferente do universo da roda, onde você cita as cantigas, aqui o assunto abordado se refere a políticas públicas, nesse sentido tratar de questões nessa ceara envolve a necessidade de uma maior investida na leitura. Eu não nego que seja uma tarefa complicada, foi para mim também, no entanto o entendimento desses assuntos exige uma maior atenção. Honestamente não vejo no texto um complexo teórico, até porque iria de encontro a característica descritiva do texto, ainda que eu tivesse no título classificado como analítico. Creio Lilu que quem tem acesso e sabe lidar minimamente com a complexidade de códigos que é a internet, não terá problema em fazer a leitura desse texto, ainda que necessite reler mais de uma vez, tarefa que eu faço constantemente com os textos mais simples possíveis, desde que tenha interesse.
    Ai entra o aspecto do interesse, quem na capoeira esta interessado em saber destas questões? Na reunião que convocamos, o que pudemos observar é uma boa parte dos que se dizem defensores da cultura popular estavam mais preocupados em interesses próprios e se cabe o comentário, o Mestre Curió, que tem se mostrado muito interessado nesse assunto, e que, como ele mesmo assume, teve uma instrução formal quase que inexistente, domina todo esse debate, ainda que expresse da sua forma o que lhe inquieta. Portanto, quanto a linguagem o texto é elaborado para quem tem interesse nessas discussões e que tenha acesso a esse meio, os demais meios de comunicação para a comunidade geral recebem a devida metodologia e linguagem, como por exemplo, o manifesto da Bahia e a reunião que também é um espaço de colocar o problema da maneira mais adequada.

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  3. A impressão de roda grande que você cita, não creio que tenha a menos relação com a divulgação desse texto, não se pretende excluir aqui os capoeiras que não possam acompanhar a dinâmica da leitura, mas recrutar aqueles que possam por essa leitura mediar em suas comunidades o que esta sendo considerado aqui.
    Ainda me posiciono contra sua associação com uma roda grande na perspectiva de exclusão ou de destaque de notáveis, por acreditar que as iniciativas, o debate de fundo, os interesses defendidos aqui são EXTREMAMENTE contrários a qualquer negligência dos interesses daqueles que você chama de “sábios capoeiras-zeladores. Aqueles que não se enxergam como notáveis, mas que buscam por dignidade estando atentos ao próximo”
    Estamos manifestados literalmente pelo desejo de luta coletiva e isso foi que me levou junto a muitos outros que tem um histórico reconhecido na militância COLETIVA de capoeira.
    Por fim, eu fico muito triste de não contar com você nessas iniciativas, afinal de contas também acredito que coisas possam ser feitas diferentes em nosso movimento, que se mostra desde o inicio coletivo e popular. Principalmente com base no seu desanimo, causado por um termo, “notáveis” coisa que eu nem observei, já que o grupo que se mobilizou é grande e tem vários encarregados, talvez não consegui observar o termo por estar tão interessado em sacudir a poeira do coletivo contra possíveis problemas sérios que estamos prestes a enfrentar. Isso não significa dizer que não seja coerente sua observação, so que, em uma escala hierárquica, creio que não seja o problema da vez.

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  4. Acho também que sua interpretação parte muito de uma análise distante, faz-se necessário pessoas como você em nossos encontros, compreenderá que muito do que diz sobre destaque e fomento de notáveis não fazem o menor sentido, afinal de contas, sou um dos integrantes do movimento, assim como Neuber, Pedro Abib e a menos que esteja profundamente enganado, temos tanto destaque na capoeira e somos tão notáveis quanto gotas no oceano. Creio que os destaques e os notáveis estão muitos mais na ceara do que se chama hoje de capoeira contemporânea (nenhum desses representantes estavam nas reuniões) defendendo o interesse de seus mega grupos e seus formatos estilizados de capoeira do que em movimentos que estão de mãos dadas com interesses estritamente populares e periféricos.
    Se junte a nossa militância e venha criticar aqui dentro, não so para mim como para grupo, estou convencido que será um grande ganho sua presença.
    Grande abraço

    Duda

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  5. Duda, sem querer tomar espaço demais do seu blog com nosso diálogo, fico feliz que tenha respondido com prontidão. Isso pra mim, é 'roda pequena', coisa que os funcionários do Iphan com quem me comuniquei não fazem a mínima idéia do que seja. Cada um é cada um e todos merecem uma atenção quase que pessoal mesmo.Gotas no oceano. E aí, notável é o oceano.
    Quando falo em roda grande, falo do movimento em si, não do texto. Vi as fotos. Abro, amplio, estudo. Vejo quem tá lá. Que roupa
    tá usando, se é 'negão', sem querer ser reducionista, talvez já sendo... Falo de um Luciano, por exemplo (depois peço desculpa a ele por citá-lo sem permissão) se levantar na frente de todo mundo ali e dizer o que pensa, o que precisa, o que sente, ou mesmo dizer:"galera, não entendi nada!! Dá pra repetir??" Ele não vai fazer isso. E ele pensa bem, reflete, filosofa até. Sabe muito bem do que precisa. E ele não vai se predispor a entender de política pública. Quem quer abrir esse diálogo é o poder público, então, que ele tenha paciência e capacidade de explicar aos capoeiras o que é isso. Que eles estejam PREPARADOS para o debate, não concordo com 'se quiser entender, vai ter que se esforçar!'. Essas pessoas já se esforçam demais pra sobreviver nesse mundo ditado. Na 'minha' escala hierárquica, esse é o ponto um: 'bora levar conhecimento a essa galera, ajudá-los a entender o texto, agir como facilitadores, mediadores!!Tenho procurado fazer isso na roda pequena...E mesmo assim...Difícil!!Se tivesse mais gente afim...
    Portanto, acho que o texto tem sim uma linguagem difícil para um capoeirista que não está acostumado a esse tipo de texto. Mestre Curió tem um ponto de cultura. Teve que aprender porque deram a ele algo que lhe interessava muito (ou mesmo que tenha aprendido espontaneamente...São poucos!!!!).
    Acho que vc quer me dizer que o foco do momento/movimento é outro, mas acredito que o foco tem uma relação intrínseca com a questão da linguagem... Tem uma hora em que vc fala (voltando ao M. Curió): "ainda que expresse da sua forma o que lhe inquieta".A forma dele está certa!! Tenho dificuldade em concordar com o seu 'ainda que'...Acho que nessa hora é que a coisa nos escapa e que a militância COLETIVA de capoeira, passa a ser militância coletiva INTELECTUALIZADA de capoeira...(É parecido com a questão da palavra 'notáveis'...Parece besteira, mas não é! Traz todo um contexto,atitudinal por trás)
    Enfim...Agradeço mais uma vez a atenção. Acho que não estou tão distante assim desse debate, Duda. Vigio de perto. Li os textos. Tô ligada. Fiz minha inscrição e passei como participante para Recife, não tive grana pra bancar...Imagina!?!! É difícil ter grana o mês todo pra pegar ônibus pra Salvador, qto mais avião pra Recife...2a agora tem reunião, né? Vou tentar pintar lá. Minha intenção não é ficar criticando de fora, não. Minha intenção nem é criticar...É dialogar. E nesse ponto, acho que tô ficando parecida com uns capoeiristas que eu conheço.Gosto de dialogar com quem me passa confiança...
    Abraço tb! Tá sumido da aula (apesar que hoje eu não fui)...Largou???

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  6. Lilu, volto a reforçar que sua análise tem uma distância muito grande do que é o movimento, por isso sustento a necessidade de se fazer presente. Vou ser bem direto, na reunião foram convocados muitos capoeiristas, como o assunto é complicado que fez as exposições foi Pedrão, Neuber e eu, que fui um dos convocados. Se acha que somos intelectuais, isso não significa reduzir o movimento a uma reunião de intelectuais, até porque todos convidados participaram do debate e grande parte dos encaminhamentos foram elaborados por eles mesmos, e mais uma vez volto a dizer, sua análise é incorreta, pois a LINGUAGEM da reunião atendeu a necessidade do coletivo.
    Sobre o assunto interesse na leitura de textos. O universo de capoeiristas é rico, é muito grande. Entendo que a condição que aliena os sujeitos, é a mesma que lhe tira o interesse do debate sobre política em geral, no contexto específico, o debate de políticas públicas para capoeira. Eu não fiquei esperando que meus alunos e camaradas mais próximos se libertassem das algemas da alienação, eu cumpri meu papel histórico, mediei esses debates com eles em ciclos de reunião, desde que a capoeira foi tombada. Assim, quando escrevi esse texto, entendia que ele deveria ser de interesse de militantes da capoeira que pudessem mediar em seus “guetos” o debate de acordo com suas especificidades, não me refiro a “guetos” como seus grupos específicos e sim o universo que lhe cerca. Isso é ser militante em minha concepção e essa causa eu abraço, no discurso, no jogo, no canto, em qualquer dimensão da capoeira. Isso você também poderá constatar, talvez Luciano até possa confirmar isso para você, já que é ele que geralmente me encontrar na capoeiragem sempre militando e com a mão no chão.

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  7. Outra coisa que começa a me preocupar em seu texto, que mais uma vez acredito ser em função da distância que tem sua análise, é a caracterização do movimento. Eu fui convidado para o encontro de Recife, e depois fui convidado para esse ciclo de debates que culminou na escrita do manifesto. Quem me convidou não foi um grupo de intelectuais, quem organizou as reuniões não foram os acadêmicos, foram integrantes do grupo que foi a Recife e que na sua maioria integram escolas de capoeira que não tem nada a ver com essa caracterização que você faz. Como convidado eu apenas me ofereci para publicar esse texto que eu já tinha elaborado la em Recife, e publicamente fui escolhido, por capoeiristas “DOS GUETOS” para ir a Brasília e ao Rio divulgar o manifesto com folhetos e realizar uma leitura pública. Certamente Lilu essa escolha não foi pela condição de intelectualidade, creio que tenha sido muito mais em função do fato de eu ter colocado a cara na finta para representar interesses coletivos, a confiança que você espera nas relações esses camaradas, um grande número por sinal, depositou no movimento.
    Você diz que o poder público tem que ter paciência para que os capoeiristas entendam. De onde você esta falando isso? Daqui da terra? Rsrsrs.
    Lilu, nossa primeira política pública para capoeira foi a criminalização, o estado tem um papel muito bem definido de defender interesses burgueses, por isso que os grupos grandes e a capoeira contemporânea esta na finta, a escola esta e permanecerá falida na gestão do governo liberal, o que você quer dizer com “capacidade de explicar aos capoeiristas”, o crime organizado do Brasil se concentra em Brasília, o governo tem propagandas que eu gostaria de morar e estudar nelas, a união, os estados e os municípios elaboram mentiras todos os dias e convencem a população de necessidades que são contrarias a sua existência. Quando o governo vai explicar alguma coisa para capoeiristas? E se explicar de que forma será? Você realmente acredita nisso? Será que esse meu texto de análise do Pró-Capoeira não lhe apresenta nenhum dado que possa lhe trazer uma nova reflexão.

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  8. Não tenho acordo com sua proposta, acredito que o movimento deva, dentro de suas contradições, com base em criticas, como a sua, caminhar para propor ao governo com base em suas organizações COLETIVAS como essa que se mostra até agora, espontânea, massiva, POPULAR e expressiva.
    Quanto ao que você destaque em meu texto sobre a expressão do Mestre Curió, por favor Lilu, quando eu falo “ainda que ele se expresse” estou me referindo a um característica típica do Mestre de sempre expressar tamanha indignação, não me refiro a nível ou qualidade na linguagem, não entendo que esse seja um comentário que possa sustentar sua crítica a linguagem. Como disse antes a linguagem tem suas complicações sim e concordo que ela não seja apropriada por todos, mas ela é propicia para um ambiente e serve de suporte para a mediação. Mas aproveito a deixa, porque então você não faz uma adaptação nela e publicamos juntos, eu estou bem atarefado com as demanadas de nossa mobilização e seria ótimo contar com sua ajuda, o que acha?
    Por fim, entendo crítica como uma coisa positiva, e todas as vezes que pensei em crítica como algo negativo reconheço que deixei de avançar, em alguns grupos e coletivos criticar é sinônimo de ofensa ou dureza, espero que entenda que vejo o que considera como crítica e sinto que são muito ricas e necessárias, nesse espaço você pode se sentir livre para criticar. Sente a madeira.

    Espero você em nosso próximo encontro, será na segunda-feira, no forte da capoeira.

    Abarços

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